quinta-feira, 1 de abril de 2010

Olimpíadas ou Olim-PIADAS?


Desde que o Rio foi escolhido como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, eu bato o pé: como essa insanidade pode ter sido aprovada?

Muitos criticam esse ponto-de-vista: acham um pouco rígido ou desesperançoso demais. Acreditam que deveria considerar os possíveis benefícios para o País e para a própria cidade e seus habitantes, ainda que ao custo de muita robalheira e politicagem nas alturas. Meu pai mesmo diz que, apesar desses custos, pelo menos a população tem a chance de ter alguma melhoria e infraestruturas para seu futuro usufruto.

Mas convenhamos: no final, são de fato observadas melhorias? As pessoas realmente têm alguma coisa de que usufruir? Desconfio muito disso - em grande parte, pela própria experiência e vivência dos Jogos Panamericanos no Rio em 2007.

Veja bem: um exemplo clássico e amplamente conhecido de que não há continuidade para o real usufruto dessas estruturas é o Parque Aquático Maria Lenk, um dos carros-chefes do Pan e da candidatura às Olimpíadas, mas que na verdade é um elefante branco custeado pelos impostos estaduais do Governo do Rio de Janeiro. Ou você acha que há alguma atividade lá desde que o Pan acabou??!!

Quer outro exemplo?! Lá vai: o Engenhão, tão moderno, arrendado hoje pelo clube do Botafogo, fica no meio de uma favela sem fim. Sim, favela horizontal também é favela - perigosa, igual! De acesso complicado - andar de trem é uma aventura; de carro, só conhecendo o caminho; de qualquer jeito, rezando para nada de grave acontecer. Te pergunto: você vai lá? Eu já fui ver com meus próprios olhos. Num dos dias, indo de trem, a segurança avisou para deixar as janelas fechadas, pois poderiam atirar pedras no trajeto. Lá chegando, correria para fugir da torcida adversária, num lugar sinistro e com pouca iluminação. Não bastando isso, na volta pra casa, problema: cadê as luzes? onde pegar um táxi? não tinha mais trem! Sufoco total! Em uma cidade decente, isso não é assim... Lá, sim, podem sediar jogos, eventos, manifestações, etc, etc.

Enfim! Só para completar, caso ainda reste alguma dúvida sobre o tal ponto-de-vista: durante o Pan, cabe comentar alguns itens.

1) No momento em que começaram as vendas de ingressos na internet - em plena meia-noite de um dia útil - eu estava lá, conectada, esperando ansiosa para garantir o principal: a final do vôlei masculino e do futsal. Fui a jato, ou pelo menos o mais rápido que o site permitia, dado que tive todo um baita cadastro para preencher e tudo o mais para poder finalizar a compra. Em pouco mais de 15 minutos já estava pronta para o OK final quando..... Chega a mensagem de que não há mais ingressos disponíveis! Como assim? Não estava tudo selecionado, só aguardando confirmação? Ih! Esquece! Quem já tinha o tal cadastro pronto, deve ter levado a melhor... Desigualdade total!

2) Garanto que boa parte dos melhores ingressos - esses, de que falei - se não a maioria ficou na mão de cambistas. Duvida? Então, te pergunto: na final do vôlei masculino, você viu alguma imagem mais ampla do ginásio? Tipo essas que ressaltam a lotação, o quanto tem de gente lá assistindo? Claro que não! Não tinha... Ingressos demais estavam nas mãos de gente que tentava vendê-los a mais de 3 vezes seu valor: R$ 300 para começar, os que custavam R$ 60 no guichê. É mole? E isso era uma máfia: fui com meu pai na vã esperança de conseguir assistir, ainda que um pouco mais caro... Mas tudo que ofereciam era por esses valores, cheios de esquemas: tinha que procurar alguém nos bares em torno do Maracanã para proceder à venda... Afinal, tinha muito policial na rua para "inibir" esses cambistas. Ledo engano: essa corja já estava com o esquema amarradinho.

3) E o que falar da "organização", então? Aliás, nunca vi tanta bagunça! Um exemplo básico? O jogo de vôlei masculino ainda pela fase de classificação entre Brasil e México. Jogo marcado para as 19 horas de uma quarta-feira - tudo bem, era sair do trabalho e correr para o Maracanãzinho, sem problemas, jogo tranquilo e sem concorrência. E eis que, na véspera, mudam o horário para as 15 horas! Tem noção?! Você comprou o ingresso e o chefe não liberou? Azar o seu! Para minha sorte e de outras duas colegas, o nosso foi muito bonzinho e nos liberou excepcionalmente nesse dia para podermos participar da festa. Ufa! Então valeu à pena? Será? Hahahaha... Tem que rir mesmo! Chegando um pouco atrasadas, ficamos perambulando para descobrir os lugares "marcados"... Vai pra lá, vem pra cá e cadê esses lugares? O jogo correndo, a gente sem graça incomodando o pessoal que já estava sentado assistindo. Tivemos que pedir informações a uns voluntários e surpreendentemente (se é que ainda podia haver mais surpresas) descobrimos que aquelas numerações não existiam! NÃO EXISTIAM!!!! Estavamos alocadas em bancos fantasmas!! E isso comprando ingressos com 3 semanas de antecedência!! Daí para o samba das cadeiras foi um pulo: sentamos para assistir ao segundo e ao terceiro sets, rezando para o verdadeiro dono da cadeira escolhida não aparecer e nos fazer mudar novamente de lugar - coisa que víamos acontecer com outras pessoas. Afffff!! Sem comentários!!

4) Para completar a lambança, sem muito me estender no assunto (e olha que tem muuuuuito mais para contar), durante os jogos eu conversei com muitos taxistas, para ver se pelo menos estes estavam tirando proveito de tão grandioso espetáculo. Fiquei atônita quando ouvi de TODOS os que falei que, ao contrário do que deveria ser, para eles ficou pior o mercado: primeiro, porque apenas alguns taxistas credenciados extras (sim! extras, numa cidade que não precisa disso, pois já tem o suficiente), selecionados pela "máfia" política, podiam circular nos locais dos eventos do Pan; depois, porque, para completar, o aumento da tarifa para bandeira 2 durante todo o mês afastou os clientes habituais, já que aumentaria seus gastos em um momento em que não estavam preparados para tal.

É.... não é à toa que continuo batendo o pé: não adianta se iludir, a grande realidade é que nem sequer algumas pequenas possíveis vantagens sobram para a população em geral. O lucro, a festa, o real ganho desses grandes eventos só têm os mesmos destinos de sempre: as corjas política e empresarial, que vão ficando cada vez mais ricas e poderosas, em detrimento seu, meu, de todos nós, reles cidadãos que pagam impostos, suam a camisa e só vêem seus direitos sendo constantemente violados. Afinal, vivemos em um circo chamado Brasil!



quarta-feira, 31 de março de 2010

Efeito Borboleta...

Desde pequena, tenho uma vida permeada pela filosofia, mesmo ainda sem saber o que era, cheia de porquês, poesias e questões existenciais. Uma cabeça matematicamente desequilibrada pelas emoções conflitantes, que trouxeram inúmeras capacidades de que hoje muito me orgulho - como a capacidade de escrever os pensamentos e sentimentos.

No decorrer da vida, qualquer ser pensante acaba em algum momento se revoltando, se angustiando ou se decepcionando ao ver tanta crueldade, tanta injustiça e, mais que tudo, tanta desilusão com seus semelhantes - poderiam ser assim tão similares? Para seguir adiante, é preciso liberar essas emoções de alguma maneira - e olha que existem milhares!

Um dia, no meio de uma crise de raiva - uma dessas formas de liberação - meu namorado, sempre gentil, tentava me acalmar, entre outras coisas atentando para o fato de que o universo não mudaria nada em troca de minha indignação.

Surgiu, daí, a ideia de montar um blog, para liberar de forma mais criativa e instrutiva minhas revoltas com esse ser humano maluco, essas cidades caóticas, esse universo intrigante. Demorei, mas aqui estou, nessa tentativa de aproveitar o coloquial para fazer VOCÊ pensar e - por que não - mudar um pouco, melhorar o mundo, como o bater das asas de uma borboleta.